(Aula de campo no cemitério.)
*fotos aqui, ó: http://missandrade.multiply.com/photos/album/117
Toda vez que discordar do teu poder de realização, estarei lá, esperando pra te orientar com minhas respostas decoradas e meus mapas rasurados.
Sou a tua vontade reprimida de fracassar. Não precisas de mim, mas estranhamente me mantém por perto. E estarei sempre lá pra te fazer lembrar que talvez tu possas não ser capaz ao tentar fazer valer.
Sou o teu senso crítico de rejeição. Quando deixar de acreditar no pouco de verdade que há a tua volta, precisará de mim para alimentar seu ceticismo, baseie em mim tuas previsões pessimistas. Sou a tua inocente vontade de destruir algo que não te pertence. Quando o "ter" significar não deixar o outro ter, serei a mais doce dos teus sete pecados. Mostre-me do que é capaz. Faça-me viver para que eu possa fazer morrer.
Quero deixar que os muros me façam ignorar os erros. Me tornarei forte por não saber o quão forte sou. Sou o teu desejo secreto de destruição. Sou a arma em tuas mãos. Sou a vítima à tua frente. Sou o gatilho pesado. Sou a bala. Sou o espaço vazio de um segundo que nos separa. Sou a tua realidade transformada em dor. Sou a frieza de tuas escolhas. Sou a tua decisão e o teu arrependimento.
Sou a tua culpa...
e tu podes fazer o que quiser comigo agora.
Hoje eu trocaria TUDO pela casca de tartaruga. Quem sabe até negociaria sua lentidão, característica que não possibilita às pessoas criarem grandes expectativas em cima dela. Ora, todo mundo entende e respeita o ritmo da tartaruga. Mas eu sou só uma pessoa, que coisa inútil querer que respeitem meu limite.
Pode ler mais uma vez, não é engano. Até a Buda aqui tem um limite. Mesmo ultrapassado, ele não se livra do bom senso. Só que hoje, só hoje, eu mandei o eufemismo embora. Perdi a paciência. Esqueci de relevar os motivos, odiei pequenas e grandes coisas. Uma hora é necessário encarar que as coisas não são tão perfeitas assim. E claro, arcar com isso.
Tenho lidado com pressões de todos os lados, sobretudo o de dentro. Enxergar que a minha ingenuidade pode sim, se voltar contra mim. Graças a Deus, os motivos bons me movem (e a ligação de "boa tarde" salva meu dia). Pego tudo de bom e mando os maus-humores pra tão visitada putaquepariu. A falta de tempo vai passar, os trabalhos da faculdade serão bem feitos e a concha será aberta. Minhas expectativas quanto a mim mesma se restabelecerão (e se preocupar com elas eu já vi que é algo tão útil como querer que as pessoas que amo tivessem perto de mim agora nesse momento). Até o otimismo se concluir, fico aqui invejando o bebê da vizinha dormindo tão despreocupado e torcendo pra não ser pega pelo furacão.
Eu sobrevivo à pressões.
Mas e teu caráter?
Por todo esse tempo tenho colecionado ensinamentos, conceitos e fragmentos de idéias (nem sempre minhas). É um arquivo imenso, e o protejo com minha própria vida. Somente isso me importa e somente isso me mantém viva.
Por favor, faça silêncio, a tua voz me machuca de uma forma singular. Mas não mais que teu olhar, fingindo não perceber minha presença e pretendendo me mostrar que tudo que tive até agora não significa nada perto daquilo que tu tens pra me oferecer. E não tente camuflar tua vinda com um falso interesse sobre meu conteúdo. É a busca por atenção. É a vontade de ser mais, de saber mais e de aprender mais... coisas novas dessa vez.
Há um livro que está completo. Completamente em branco. E em meio a tantas histórias inacabadas, ele é o único que faz sentido agora.
Pelos corredores, entre as páginas esquecidas, há uma velha menina com uma memória impressionante. Ela é a protetora dessa biblioteca. Ela protege os contos de fadas, as fábulas e as leis da física. Ela viajou por todos os lugares, enfrentou piratas e já foi à lua. Ela é o resumo da síntese da última linha. Ela é a dona das estrelas, do movimento de translação e de todos os planetas. Ela é o exemplo. Ela é a pergunta. Ela conquistou Roma e já queimou bruxas. Ela decorou todos dicionários e já comandou dezenas de revolucionários. Ela foi menina, foi heroína e já morreu algumas vezes. Ela já chorou nos finais felizes e já sorriu sem motivo algum. Ela foi forte, foi mágica e agora vive aqui, sozinha. Ela é a sabedoria, a teoria e a prática. Mas, perto de ti, ela consegue ser apenas mais uma. Porque ela, que conhece todas as palavras, ainda não encontrou nenhuma que pudesse descrever o quanto tu és lindo. E ela sabe que o que ela menos precisa saber agora é como definir um sentimento...
(então ela só brinca com coisas sérias)
i keep a book of feelings. Copyright 2008 Shoppaholic Designed by Ipiet Templates Image by Tadpole's Notez